A escola de hoje está a tentar modernizar-se. O que o PTE está a fazer é louvável Mas será a tecnologia uma solução? Pensar que o acesso às TIC e o seu uso intensivo vão reduzir o abandono escolar e diminuir o insucesso, será correcto?

Saber as potencialidades da utilização das TIC na escola, e na sala de aula concretamente, foi um dos motivos que me levou a procurar o mestrado nesta área. Eu acredito que sim, que a utilização bem planeada e reflectida das tecnologias podem aumentar a motivação dos alunos e facilitar a aprendizagem. Quando nas aulas utilizo as TIC (seja o projector de video para mostrar uma animação da degrutição, seja uma actividade orientada de utilização do Sketchpad) a reacção dos alunos é diferente, envolvem-se mais nas actividades, participam mais. E normalmente, são os alunos menos participativos e interessados que nestas aulas se envolvem mais.

Mas acho que a tecnologia é uma ferramenta e não uma solução. O que o PTE tem feito até aqui é criar infrastruturas, fornecer bens materiais… e o conhecimento para utilizar todo este material? Para muitos professores o computador continua a ser um bicho de sete cabeças quanto mais usá-lo na aula com os alunos. É necessário formar os professores e sensibilizá-los para as vantagens da utilização das TIC, mostrar-lhes exemplos do que podem fazer nas suas aulas, incentivá-los a criar materiais e a ter ideias novas. Com formação e informação, a escola poderá utilizar as TIC e chegar aos corações de mais alunos, poderá simplificar processos de trabalho, criar novas metodologias de avaliação…

Isto tudo levará o seu tempo a ter os seus frutos mas se for cuidadosamente conduzido acredito que terá. Da forma que está a ser feito, tenho as minhas dúvidas. Provavelmente daqui a uns meses dir-se-á que o Plano decorreu como esperado e com resultados extraordinarios; mostrar-se-ão escolas que há muito utilizam as TIC como sendo escolas que abriram agora as suas portas para as tecnologias com resultados espantosos; inventar-se-ão estatísticas que embelezem a moldura deste quadro falsificado; e continuarão os professores a fazer o que podem para sobreviver a mais uma reforma de mais um governo.

No plano tecnológico da educação não há grande preocupação com a organização do currículo. No entanto, trata-se de dotar as escolas de equipamentos e mecanismos de comunicação e gestão, o que de certo modo aproxima a escola do modelo de organização de uma empresa, com os recursos tecnologicamente adequados, de acordo a sociedade e cultura desejáveis por este governo.

Segundo o modelo tradicionalista, este plano não deveria por em causa o arranjo educacional existente, ou seja, a indução da utilização pedagógica das TIC nomeadamente na realização da avaliação escolar não deveria ser uma preocupação, mas no entanto é-o.

Apesar de não haver uma alteração clara do currículo, há uma ampliação dos seus objectivos através da integração quotidiana da TIC na sala de aula.

No entanto, pergunto-me se não estará este governo a fazer com as TIC a mesma coisa que já se tentou fazer no século passado com outras tecnologias que se pensavam que iriam revolucionar o ensino? Não será um exagero de recursos, só para dizer que se é tecnologicamente mais avançado? Não me parece que estas medidas tragam mudança só por si, sem que haja investimento na formação dos professores e hábitos de uso destas tecnologias. De acordo com o Plano esta formação virá tarde e talvez à pressa, o que não lhe institui grande credibilidade ou funcionalidade.

No que respeita a aspectos positivos do Plano, acho louvável que se esteja a tentar aproximar Portugal dos padrões europeus e a facilitar o acesso à tecnologia a grande parte dos jovens cidadãos portugueses. A certificação que se pretende fornecer também é uma medida importante, pois esclarece oficialmente as competências adquiridas nesta área, assim como o é também o nível de segurança que se pretende que haja nas escolas, através da videovigilância e o cartão magnético.

Pessoalmente, tenho muitas dúvidas sobre o sucesso educativo destas medidas ou acerca das alterações que realmente causarão no sistema de ensino português.